Blog Action Day 2010

Existem muitas coisas que damos como certas. Infelizmente, elas só são devidamente apreciadas quando as perdemos.

Fonte de água (potável!) do Stadtpark de Viena.


Mais um ponto para as viagens! Afinal, um dos efeitos colaterais (desejáveis?) de se viajar é que as coisas adquirem graus de certeza relativos, mesmo quando tudo foi bem programado… =)

Então, muitas preocupações que você não tinha ao sair de casa passam a ocupar a sua cabeça. Por exemplo, a água da cidade X é mesmo potável? Posso beber sem medo?

Talvez porque o Brasil seja um dos países mais ricos do mundo no quesito água, não estamos acostumados a pensar nisso como um problema. Estamos enganados. A questão é tão importante que consta na pauta das Metas de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. E isso porque estima-se que quase um bilhão de pessoas não tenha acesso a fontes seguras de água potável. Isto são quatro a cinco Brasis!

E por que tanta gente está sem água?

Mais do que uma questão de quantidade, trata-se de um problema de distribuição. É verdade que apenas 2,4% da água do planeta é doce e, deste total, boa parte está sob a forma de geleiras nos pólos. Entretanto, em tese, o ciclo hidrológico seria suficiente para garantir, em termos globais, o fornecimento de água fresca para todos. Infelizmente, toda esta água está muito mal distribuída. As maiores reservas mundiais de água doce estão no Brasil (sorte nossa, ?), Canadá, Rússia e China. Por outro lado, países do Oriente Médio, como o Kuwait e Arábia Saudita, e ilhas, como Malta, enfrentam extrema escassez.

Mesmo dentro do Brasil, com toda esta abundância, são recorrentes os problemas de falta de água (vide a questão da seca no Nordeste). Correndo o risco de entediá-los, vamos a alguns números.

Em média, cada brasileiro recebe 260 litros de água por dia. Deste total, cerca de 7% não recebe nenhum tratamento (o que nem sempre é mau sinal, já que águas provenientes de poços, por exemplo, podem ter boa qualidade). Para os que acharam este número exagerado, o valor de referência adotado pelo Ministério da Saúde é um mínimo de 80 litros diários por pessoa.

Para termos uma ideia melhor da situação da distribuição, como boa engenheira que sou, resolvi colocar os dados do IBGE (em litros por habitante por dia) em um gráfico, com a ajuda do Many Eyes.

 

De cara, nota-se uma grande discrepância entre Roraima (80 litros/habitante/dia) e o Rio de Janeiro (550 litros/habitante/dia), por exemplo. Mapas como este deveriam nortear as políticas públicas no setor. Afinal, é para isto que o IBGE coleta tantos dados!

Distribuição à parte, existe um outro ponto nevrálgico no que diz respeito à água: a contaminação dos recursos hídricos disponíveis. Isto pode comprometer o acesso à água, inclusive para populações que moram nas vizinhanças de grandes fontes. Dois exemplos: a região metropolitana de São Paulo, onde lixões ameaçam metade da água disponível, e o Rio de Janeiro, onde o grande vilão é o esgoto urbano.

Aqui, quero aproveitar para mencionar os aquíferos. Grandes reservatórios subterrâneos de água, eles são um dos maiores tesouros do país – em especial, o aquífero Guarani, que é tido como o maior do mundo! Sem o monitoramento da água que penetra nestes aquíferos (e os realimenta), corremos o risco de comprometer a potabilidade de todo o reservatório. Novamente, o papel do Estado é importante: fiscalizando e punindo quem polui.

E qual é o nosso papel? É claro que devemos fazer um uso racional da água (e de todos os recursos naturais!). Mas, acima de tudo, devemos estar informados. Votar consciente das implicações de nossas escolhas. E, depois, independentemente de quem for eleito, cobrar resultados. Muito se engana quem pensa que suas obrigações acabaram ao depositar o voto na urna.

Só por hoje, deixei de lado os relatos e dicas de viagem. O objetivo do Blog Action Day é que as pessoas pensem sobre um tema importante para o planeta. Que as ideias fluam!

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